Transformando resíduo orgânico em energia barata e fertilizante natural no Brasil
Pedro Colombari é dono de uma fazenda com cinco mil porcos na pequena cidade de São Miguel do Iguaçu, no estado do Paraná. Ele começou a produzir biogás em 2006 e usa o produto para abastecer sua fazenda com eletricidade.
"É fácil produzir biogás na criação de porcos. O sistema é muito simples,” diz Colombari. “O sistema funciona por gravidade. De manhã, o resíduo dos porcos desliza gradualmente em direção ao biodigestor através de tubos."
O biogás é uma fonte de energia renovável gerada a partir da decomposição de resíduos orgânicos produzidos por fazendas, restaurantes, agroindústria, entre outros. O resíduo é direcionado até piscinas cobertas, onde sua decomposição resulta na liberação de biogás. A substância restante - chamada biodigestato - é usada como fertilizante.
O biogás pode gerar energia elétrica, energia térmica ou combustível para transporte com impactos positivos para o meio ambiente: reduzindo as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera e diminuindo a poluição de nitrogênio ou fósforo em córregos, rios e no solo ao redor de fazendas.
Atualmente, a usina de biogás de Pedro Colombari gera eletricidade suficiente para abastecer não apenas sua fazenda, mas outras três propriedades próximas. O excedente de energia abastece a rede elétrica local: "Economizamos cerca de mil dólares por mês, portanto é uma economia significativa." Depois que o biogás é gerado, ele usa o biodigestado resultante para fertilizar seu pasto.
Mais ao norte, ainda no estado do Paraná, no município de Entre Rios do Oeste – mais perto da fronteira com o Paraguai – Romário Schaefer administra uma fábrica de tijolos. Ele decidiu instalar uma fazenda de porcos nas proximidades da fábrica para abastecer seu negócio com energia elétrica a partir do biogás.
Schaefer diz que tomou essa decisão "por várias razões." “Primeiro, porque a energia elétrica é cara, principalmente entre as 18h e as 21h. Segundo, porque podemos confiar na nossa usina de biogás sempre que há falta de energia na cidade.”
As contas de eletricidade de sua fábrica costumavam representar 13% dos custos da produção, já que a fabricação de tijolos é um negócio que consome muita energia. A usina de biogás reduziu pela metade o custo da eletricidade. "Já temos planos de expandir nossa suinocultura e queimar biogás para aquecer o forno".
Segundo a Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), o Brasil tem o maior potencial de biogás do mundo. No entanto, dados da ABiogás e do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) mostram que o Brasil possui apenas 366 usinas de biogás e explora somente 2% do seu potencial total. O biogás poderia suprir até 36% da demanda de eletricidade do Brasil ou cobrir 70% do consumo nacional de óleo diesel.
O Brasil também é o quarto maior consumidor de biofertilizante do mundo e atualmente importa 65% do total utilizado. Se a produção de biogás – e, portanto, de biodigestato – aumentasse, representaria uma oportunidade de mercado para as empresas locais.
Atualmente, cerca de três milhões de metros cúbicos de biogás são produzidos no Brasil todos os dias. A ABiogás e o CIBiogás estimam que o país poderia gerar até 81 bilhões de metros cúbicos de biogás por ano se todo o potencial de produção de biogás proveniente da agricultura, do setor açucareiro e dos resíduos sólidos urbanos fosse explorado.
A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) implementa um projeto chamado GEF Biogás Brasil, financiado pelo Global Environment Facility (GEF) e coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O projeto pretende desenvolver a cadeia de valor do biogás no Brasil e converter resíduos orgânicos em energia elétrica, energia térmica e combustível para transporte.
O objetivo do GEF Biogás Brasil é promover emprego e inovação auxiliando empreendimentos da agroindústria na região sul do Brasil, e planeja apoiar negócios de gestão de resíduos orgânicos municipais em um futuro próximo. A ABiogás e o CIBiogás estão entre os principais parceiros do projeto. Beneficiários terão acesso a dados atualizados sobre a oferta e a demanda de biogás, modelos de negócio inovadores, regulamentação atualizada, políticas públicas favoráveis, serviços financeiros sob medida, assistência técnica e serviços de treinamento.
O representante da UNIDO no Brasil e na Venezuela, Alessandro Amadio, acredita que o imenso volume de biomassa disponível no Brasil permite modelos de negócio inovadores.
“O setor de biogás no Brasil não precisa necessariamente de desenvolvimento tecnológico, pois a tecnologia já está bem estabelecida,” afirma. "O valor agregado do nosso projeto está em sua capacidade de promover um ambiente de negócios propício com políticas públicas adequadas, mecanismos financeiros e modelos de negócio inovadores, apoiando cadeias de valor."
Amadio diz que o ponto de partida para o desenvolvimento de uma estratégia de biogás deve ser o usuário final dos principais produtos, como gás biometano, CO2, energia elétrica ou energia térmica.
“O projeto GEF Biogás Brasil pretende desenvolver uma cadeia de produção de biogás com base na demanda do usuário final, prevendo a inclusão do setor agrícola e de setores complementares, como indústria de alimentos, saneamento, resíduos urbanos e industriais, de forma integrada e economicamente rentável."
Vinicius Guilherme Fritsch é gerente de negócios de energia da Castrolanda, uma cooperativa agroindustrial do estado do Paraná. Ele supervisiona mil cooperados e três mil colaboradores envolvidos com a produção de leite, suínos, feijão, batata, cereais e energia.
Fritsch chama a atenção para alguns dos obstáculos atuais que impedem o crescimento do setor: “Acredito que os principais desafios são os custos de equipamentos importados para a execução de plantas de biogás automatizadas e a complexidade para dimensionar adequadamente um projeto neste setor.”
Por outro lado, ele acredita que a principal vantagem econômica da produção de biogás e biometano é a transformação de resíduos em algo rentável e gerenciável.
"Conseguimos monetizar o que antes era resíduo orgânico de produção, e podemos dar uma destinação adequada."
Para mais informações, entre em contato:
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial - Escritório no Brasil
Raphael C. F. Makarenko (Assessor de Comunicação)